quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

You're gonna make me lonesome when you go


Comecei ouvindo Madeleine Peyroux, já fazia muito tempo que não ouvia. Lembranças. Sempre lembranças. E no meio das névoas, abriu-se Bob Dylan que há tempos não ouvia também e, aí, como diria Guimarães Rosa, 'lágrimas caíam pela face como formiguinhas brancas'.
Essa canção é deslumbrante, de letra mais deslumbrante ainda...e, novamente, Bob Dylan consegue dizer tudo o que não consigo.

You're gonna make me lonesome when you go (Bob Dylan)

I've seen love go by my door (Eu vi o amor passar pela minha porta)
it's never been this close before (Nunca esteve tão perto assim antes)
Never been so easy or so lown ( Nunca foi tão fácil ou tão lento)
Been shooting in the dark too long (Andei atirando no escuro por tempo demais)
When something's not right it's not wrong (Quando algo não está certo está errado)
You're gonna make me lonesome when you go (Você vai me deixar solitário quando você se for)

[...]

Flowers on the hillside, bloomin' crazy (Flores na colina brotando como louco)
Crickets talkin' back and forth in rhyme (Grilos conversando de um lado a outro em rimas)
Blue river runnin' slow and lazy (Rio azul correndo lenta e preguiçosamente)
I could stay with you forever (Eu poderia ficar com você para sempre)
And never realize the time (E nunca perceber o tempo)


------********-----

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Bocaoca

A borboleta-laranja enamorou-se do
o vento.
Ele a castigava.
Empurrava-a contra as crateras-labirintos
feitas, pacientemente, pelas formigas.
Ela resistia.
Inerme como uma boca
pintada com as cores do último verão.

Ano novo, problemas velhos

Estou sobrevivendo. A vida, às vezes, parece um grande buraco negro em espirais cada vez mais profundas e, por isso, você pensa: não adianta resistir!
Penso: Talvez o ano esteja só começando e todo começo é difícil.

"Todo eu me cansei. Todo o meu cansaço colidiu com o meu cansaço, e todo eu sou isso."
[José Luis Peixoto]

domingo, 8 de novembro de 2009


[foto de Paulo Botafogo]

Leminkiando pelas ruas de São Paulo

Os dias têm sido complicados e no vai-e-vem deles mal consigo pensar em algumas palavras para postar...
Já que não as tenho vou roubar essas aqui do Polaco-loko Paulo Leminski.
A exposição sobre ele no Itaú Cultural valeu o lapso cleptomaníaco.

"Essa vida, de eremita
é, às vezes, bem vazia.
às vezes, tem visita.
às vezes, apenas esfria."
[p.l.]

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Curruíra

o que há que dói
que corrói
como a curruíra
piando e amortecendo
o dia indo no vão da dor
o amor como a curruíra
do vampiro
corvo ou curruíra?
curruíra.
não há canto de dor maior.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

cito Borges:

"Quando escrevo alguma coisa, tenho a sensação de que isso preexiste. Parto de um princípio geral; conheço mais ou menos o começo e o fim; depois é que vou descobrindo as partes intermediárias; mas nem assim tenho a sensação de que as invento, de que elas necessitam do meu arbítrio; as coisas já se encontram ali. Mas estão ali escondidas e meu dever de poeta é descobri-las"

[Borges, Jorge Luís. Sete noites. São Paulo: Max Limonad, 1983, p.164]

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Para elas, pelo samba, pela folia!

Carnaval. Elas estão lá, as metidas, provavelmente uma cervejinha gelada para antecipar o trajeto até o Sambódromo. Elas estão lá, as putinhas, provavelmente os ingressos na mão delicadamente dispostos na carteira miúda [ligue não, acabei de ler alguns contos de Miguel Torga e o português português está na ponta da língua, opá!]. Elas estão lá, as danadinhas, provavelmente imaginando a "pito" que irão me fazer depois de lavarem a alma de samba. Elas estão lá, as praguinhas, provavelmente com o coração pulsando, a febre batendo pelo que há de vir. Elas estão lá...estão lá...lá.
Aqui eu deposito minha meia inveja, mais um gole de minha meia cerveja e saúdo-as por sambarem, por mim, a noite inteirinha. E ai se não o fizerem.

Pierrot, August Macke, 1923


Carnaval

Carnaval?
Roupas no varal.
Formigas no quintal.
Requintes de vagal.
Mas que tal...
A solidão é o mal,
Para o qual
Remédio não há sinal.